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segunda-feira, 16 de julho de 2012

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O QUE É A BÍBLIA?


O que é a Bíblia? Uma simples consulta ao índice vai nos trazer a primeira grande revelação. Trata-se de uma “biblioteca” e não apenas de um livro com muitas páginas. Na verdade, o nome dessa coleção de obras literárias, “os livros” (em grego: ta biblia), tornou-se uma palavra singular, “a Bíblia” (em grego: hē biblia). Assim, com o passar do tempo, “os livros”, passaram a ser considerados como um único livro e até mesmo como “o Livro” por excelência. Hoje, internacionalmente é conhecido como “The Book”. 
Dentre todos os livros já produzidos ao longo de toda a história da humanidade, nenhum outro foi tantas vezes traduzido, publicado, comprado e lido. A Bíblia continua sendo, mesmo em nossos dias, o maior best-seller do mundo. O fato de milhões de pessoas, de várias línguas e culturas, ao longo de séculos e séculos de história, buscarem na Bíblia respostas às suas indagações mais íntimas, em si, já é motivo suficiente para a atenção e a curiosidade do leitor mais cético. 
Em ambas as partes que a compõem (a primeira e segunda Alianças, ou o Antigo e Novo Testamentos, como são mais conhecidas essas duas grandes divisões das Escrituras Sagradas), a Bíblia começou a ser traduzida antes mesmo de estar formalmente reconhecida como um “único livro” sagrado (canonizada). 
Quando Esdras e Neemias foram convocados por Deus para educar o povo de Judá quanto à obediência aos aspectos essenciais da Lei de Moisés, foi necessário traduzir os textos sagrados do hebraico para o aramaico, porquanto, a população que voltara a Jerusalém, cerca de 90 anos antes, já não compreendia perfeitamente a língua em que os manuscritos originais haviam sido redigidos. 
Assim que, passados apenas cerca de 150 anos, após a conclusão do cânon do Antigo Testamento, os judeus que viviam em Alexandria pressionaram os governantes do Egito para encomendarem junto aos estudiosos e anciãos israelitas, uma tradução da Bíblia em grego, visando atender a sede cultural da monarquia helenista e o desejo da grande comunidade judaica para quem até mesmo a língua aramaica já estava se tornando, na prática, de difícil compreensão. Essa tornou-se a mais antiga tradução das Escrituras (285 a.C.) e ficou conhecida como Septuaginta, ou, simplesmente LXX (Setenta). 
Quanto ao Novo Testamento, não foi diferente, antes que a primeira lista canônica completa fosse oficializada e publicada, vários de seus livros já estavam traduzidos para o latim, siríaco e copta. Nos dois séculos que se seguiram, dezenas de outras línguas e culturas ganharam suas traduções. Aos 80 anos de idade, Jerônimo, um dos homens mais cultos do seu tempo, secretário de Damasus, bispo de Roma, mudou-se para Belém com o propósito de fundar um mosteiro e começar uma nova tradução do Antigo Testamento, agora para o latim (língua que suplantou o grego e se tornou a língua diplomática da época, assim como é o inglês em nossos dias). Jerônimo tinha a visão de proporcionar às pessoas uma Bíblia popular e de fácil compreensão, e por isso essa tradução ficou conhecida como Vulgata. O trabalho de Jerônimo foi tão bem recebido pelo clero católico, que o Concílio de Trento (1545-1547) a declarou “fidedigna e definitiva”, tornando-se a base para todas as demais traduções por mais de mil anos. Contudo, infelizmente, a Vulgata acabou servindo a interesses políticos, ideológicos e expansionistas. 
Entretanto, nos cento e cinqüenta anos que precederam a chamada, Reforma protestante, focos de anseio espiritual pela verdade e pela liberdade, espocavam em toda a Europa. 
Coube a John Wycliffe (1329-1384), na Inglaterra, e a sua equipe de eruditos de Oxford, a honra de serem os primeiros a traduzirem a Bíblia do latim para uma língua ocidental, o inglês. A visão de Wycliffe era propiciar ao povo o livre exame das Escrituras em sua própria língua.
Em 1516, Erasmo de Rotterdam publicou um texto grego (chamado Textus Receptus), do Novo Testamento que, apesar de muitas imperfeições e limitações, foi usado para as futuras e famosas traduções de Lutero (alemão), Tyndale (inglês), Pierre Olivetan (francês), Nicolaas van Winghe (holandês, católico), Giovani Diodati (italiano). Até os autores da conhecida versão para o espanhol, Casiodoro de Reina e Cipriano de Valera; bem como o autor da tradicional versão para a nossa língua (cerca de 200 anos mais tarde), João F. de Almeida (português), serviram-se do Texto Receptus (e da leitura de traduções em outras línguas), para a produção de suas obras. 
Em 1543, o parlamento britânico promulgou uma lei proibindo a leitura de qualquer tradução da Bíblia. Era considerado crime uma pessoa não autorizada ler ou explicar as Escrituras em público. Milhares de exemplares da Bíblia de Tyndale e Coverdale foram queimadas em Londres. A situação se agravou dramaticamente quando a rainha Mary, chamada de Maria Católica, assumiu o trono com o propósito de restaurar a fé católica tradicional e reprimir qualquer manifestação protestante. John Rogers, tradutor da chamada Bíblia Grande, foi executado em praça pública. A Suíça, em particular, a cidade de Genebra, foi o último reduto dos cristãos perseguidos e exilados da época. João Calvino, o mais importante pensador cristão francês de todos os tempos, havia influenciado fortemente a edição da Bíblia de Genebra e isso havia irritado outras correntes teológicas cristãs. 
Contudo, em 1607, um rei escocês, chamado James VI foi aclamado como James I, rei da Inglaterra. Sensível à necessidade de se realizar uma tradução da Bíblia isenta de predileções teológicas exacerbadas, ele próprio um leitor e estudioso apaixonado das Escrituras, aceitou o convite de um líder puritano e reitor da Universidade de Corpus Christi em Oxford, chamado John Reynolds, e tomou parte ativa nos trabalhos de uma nova e mais exata tradução da Bíblia em inglês, a partir dos melhores originais e do acervo crítico disponível na época. O próprio rei James (Tiago), liderou um comitê de tradução, que reuniu cerca de 50 dos mais brilhantes biblistas de Oxford. A obra literária e filosófica do seu contemporâneo e súdito, William Shakespeare, muito cooperou para a linguagem da Bíblia que ficou conhecida na Inglaterra como “Authorized Version” (Versão Autorizada pelo rei) e, em todo o mundo, como a Bíblia King James. 
Os séculos XVII e XVIII, com todas suas revoluções culturais e industriais, assistiram a mais impressionante popularização das Escrituras já ocorrida no mundo. O próprio João F. de Almeida, que morreu em 1691, na Batávia (atual ilha de Java), na cidade de Jacarta, enquanto trabalhava na versão do texto de Ezequiel 48.21, teve acesso à leitura da Bíblia King James de 1611.
No dia 6 de outubro de 1537, quando Tyndale foi estrangulado e queimado em praça pública por ter traduzido a Bíblia, suas últimas palavras foram: “Senhor, abre os olhos do rei da Inglaterra!” Agora, sua oração profética fora plenamente atendida.
Apesar do comitê de tradução do rei James I ter usado o texto massorético, usado até hoje nas mais modernas e dispendiosas traduções do hebraico, as descobertas dos chamados “rolos do mar Morto”, em Qunram, na região do mar Mediterrâneo, trouxe grande ajuda à compreensão do antigo texto massorético. 
Na tradução do Novo Testamento, os eruditos de Oxford usaram a conhecida tradução grega do Textus Receptus. Porém é sabido que Erasmo de Rotterdam, para compilar o texto grego, serviu-se de apenas cinco ou seis manuscritos tardios datados dos séculos X e XIII. 
Ocorre que, a partir de 1630, várias descobertas bíblico-arqueológicas importantes ocorreram. O Código Alexandrino, um original do século V, contendo todo o Novo Testamento, levado para a Inglaterra, forneceu um testemunho fidedigno, especialmente ao texto integral do Apocalipse. 
Duzentos anos mais tarde, um erudito alemão, chamado Constantino von Tischendorf descobriu, no Mosteiro de Santa Catarina, o Código Sinaítico, datado de aproximadamente 350 d.C. e que está na biblioteca do Vaticano desde 1481. Contudo somente a partir de meados do século XIX foi liberado seu estudo por parte de biblistas não ligados ao clero católico.
Entretanto, foi apenas entre as décadas de 1950 e 1960 que o maior achado arqueológico do século XX viria à tona: os rolos do mar Morto. Foram encontrados cerca de 600 manuscritos e mais de 50 mil fragmentos. Todo esse tesouro bíblico-arqueológico estava escondido em frágeis cântaros de barro no fundo de várias e pequenas cavernas, muito comuns na região montanhosa de Vadi Qunram. 
Antes das descobertas de Qunram, os mais antigos manuscritos hebraicos do Antigo Testamento datavam de 900 d.C. Os rolos do mar Morto, entretanto, revelaram originais escritos muito antes da destruição de Jerusalém e a conquista da Palestina pelos romanos no ano 70 d.C.

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