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segunda-feira, 10 de junho de 2013

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Escravos por amor



Conta-se que dois jovens morávios souberam que numa ilha no leste da Índia havia três mil escravos pertencentes a um ateu britânico. Sem permissão de irem para lá como missionários, eles decidiram vender a si mesmos como escravos e usar o dinheiro para pagarem as passagens para a ilha. No dia da partida, as suas famílias e os seus amigos estavam reunidos no porto, sabendo que, após a sua partida, jamais os veriam novamente. Indagados sobre a razão que os levava a uma decisão tão extrema assim, eles permaneceram calados. No entanto, quando o barco estava se afastando, os dois rapazes gritaram: “Que através das nossas vidas o Cordeiro que foi imolado receba a recompensa pelo Seu sacrifício!” (Fonte: site da Editora Ultimato; texto de Enedina Sacramento)

Para mim, este relato é profundamente comovente e inspirador. Ao mesmo tempo, no entanto, ele faz com que eu me sinta envergonhado. A história diz que os morávios enviaram milhares de missionários a várias partes do mundo. Eram pessoas que desistiam dos seus sonhos, que renunciavam o privilégio de viverem com as suas famílias e tantas outras coisas das quais a nossa geração se recusa a abrir mão! A chama missionária precisa ser reacendida na Igreja do Senhor Jesus em nossos dias! Estes morávios fizeram tanto para Deus, apesar de terem tão pouco. Em contrapartida, nós temos feito tão pouco, apesar de termos muito!

Mas o que diferencia estes irmãos da nossa geração atual? Eu não creio que eles nasceram de novo com algum tipo de “DNA espiritual” mais avançado. Também não creio que o chamado divino tenha sido mais forte para eles do que para outros, pois Deus não faz acepção de pessoas. Além do fato de que os morávios oravam muito (eles chegaram a orar cem anos ininterruptamente – que é a receita divina para que haja mais obreiros para a Seara [Mt 9.38]), eu creio que estes irmãos morávios tinham uma mentalidade diferente, uma mentalidade de tanto amor e de entrega que eles se dispunham a viverem como escravos por amor a Cristo e à Sua causa.

Enquanto eu refletia sobre este episódio dos dois jovens morávios e as características deste povo (que marcou o seu tempo e a sua geração) eu percebi o quanto que a atitude deles está ligada a um princípio tremendo – de amor a Deus – revelado nas Escrituras: o princípio do escravo por amor (ou do servo da orelha furada). Observemos o que diz a Palavra de Deus:

“São estes os estatutos que lhes proporás: Se comprares um escravo hebreu, seis anos servirá; mas, ao sétimo, sairá forro, de graça. Se entrou solteiro, sozinho sairá; se era homem casado, com ele sairá sua mulher. Se o seu senhor lhe der mulher, e ela der à luz filhos e filhas, a mulher e seus filhos serão do seu senhor, e ele sairá sozinho. Porém, se o escravo expressamente disser: Eu amo meu senhor, minha mulher e meus filhos, não quero sair forro. Então, o seu senhor o levará aos juízes, e o fará chegar à porta ou à ombreira, e o seu senhor lhe furará a orelha com uma sovela; e ele o servirá para sempre.” (Êxodo 21.1-6)

Confesso que este texto me deixou confuso por muito tempo. Ver a escravidão presente na cultura dos povos antigos (tanto do Antigo como do Novo Testamento) é uma coisa; ver Deus regulamentando as leis da escravidão é outra bem diferente! Eu analisava este trecho bíblico e ficava receoso de que a escravidão, que graças a Deus é algo que não mais toleramos hoje, fosse algo respaldado pelo Senhor. Embora o propósito desta lei fosse impedir que a escravidão fosse praticada sem misericórdia, ainda assim a ideia de um homem servindo a outro era algo que me incomodava.

Entretanto, descobri que muitas coisas com as quais o Senhor teve que lidar com o Seu povo não eram necessariamente a Sua vontade, como é o caso da poligamia – tolerada por muito tempo, mas depois proibida por Deus. Creio que é assim que devemos olhar para a questão da lei do servo da orelha furada.

Por que Deus estabeleceria uma lei como essa? Como isso deve falar ao nosso coração? Uma vez que a Lei não tem a imagem exata das coisas e sim a sombra de bens vindouros (Hb 10.1), devemos nos questionar: “Como devemos nos relacionar com esses trechos do Antigo Testamento? Paulo disse aos irmãos coríntios que o mandamento “não atarás a boca ao boi que debulha” (1 Co 9.9,10) foi dado pelo Senhor por causa de nós, e não por causa dos bois! Embora à primeira vista o assunto em questão pareça ser a alimentação dos bois apenas, a projeção de Deus para os dias da Nova Aliança, para os dias em que vivemos hoje, é outra: o sustento dos obreiros! Assim também é com a lei do servo da orelha furada. O Pai Celestial está indo muito além dos dias da Lei Mosaica e abordando algo importante sobre o nosso relacionamento com Ele hoje.

Muitos não enxergam a verdade do senhorio de Jesus sobre as suas vidas. E até mesmo nós, que a enxergamos, precisamos crescer no nível de entendimento deste nosso relacionamento com o Senhor. Ao mesmo tempo em que Ele é o nosso Pai Celestial e nós somos os Seus amados filhos e herdeiros, Deus também é o Senhor das nossas vidas e nós somos os Seus servos! Lembrando, é claro, que a palavra “servo” significa “escravo”! Isto é exatamente o que somos como consequência da redenção de Deus em nossas vidas.

Por Luciano Subirá

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